quinta-feira, 9 de julho de 2020

41ª Parashá - Pinhás - פִּינְחָס

Finéias
Parashá: Números, 25:2-30:1
Haftaráh: I Réis, 18:6-19:21
Resumo da Parashá
Esta Porção da Torá, inicia-se com o episódio final da Porção anterior, em que Pinchás ao ver um homem israelita entrar no acampamento acompanhado de uma mulher midianita, perante Moisés e toda a comunidade e levantou-se Pinchás, pegou numa lança e foi atrás do homem e matou a ambos com a lança. E o Eterno afirma a Moisés: " Pinchás, o filho de Eleazar, filho de Aarão, desviou de mim a ira sobre os filhos de Israel, e eis que lhe dou o meu Pacto de Paz.
Todavia esta não é a parte principal da Parashá, mas fala de um tema que é comum a todo o conjunto, a Justiça, daí termos escolhidos como ilustração o símbolo da Justiça de olhos vendados com a balança na mão. A 41ª porção da Torá está dividida em 4 partes temáticas, o episódio de Pinchás, o senso das 12 Tribos de Israel, a Justiça para com as Mulheres e o Legado de Moisés pela sucessão de Josué.
A Justiça de Pinchás e a Briti Shalom.
Pinchás, que em português se pronuncia Finéias, era filho de Elazar e neto de Aarão o sumo sacerdote, após a tentativa gorada de Balac de amaldiçoar Israel através do Profeta Bil'am (Balaão), este último disse ao rei dos Moabitas que a única forma de derrotar Israel, é fazer com que cometa o pecado mais odiado pelo Eterno, a luxuria, a promiscuidade e o adultério, assim, muitos dos jovens israelitas pecaram, envolvendo-se com mulheres moabitas e midianitas, a ainda adorando os deuses desses povos, um deles, Zimri, príncipe da tribo de Simeão, chegou a levar uma mulher midianita para dentro do acampamento na frente de toda a congregação levantando a ira severa do Eterno, mas Pinchás mata-os com uma lança que os atravessa ao mesmo tempo pelo ventre. Esse zelo por amor ao Eterno e ao seu povo, fez com que D-us cessasse a praga que teria morto vinte e quatro mil habitantes dentre o povo de Israel. O Eterno abençoou Pinchás com um "Meu Pacto de Paz" - בְּרִיתי שָׁלוֹם - Briti Shalom, e diz que terá ele e sua descendência um Sacerdócio perpétuo. 
O Senso das 12 Tribos de Israel.
Na segunda leitura (Alyiáh haTorá) o Eterno ordena a Moisés que faça o senso dos filhos de Israel por cada tribo, de todos os homens a partir dos 20 anos para que sejam alistados no exercito de Israel, o capítulo enumera todas as famílias pela ascendência de todos os patriarcas que saíram do Egito e suas famílias. Na Torá sagrada, cada família foi enumerada acrescentando duas letras o Yod e o Hei, para formarem a palavra 'Yáh' abreviatura do nome do Eterno, significando assim, que todas aquelas famílias estão consagradas a D-us de Israel, essa consagração, não tem portanto em conta, a dimensão da totalidade de pessoas, mas tem o significado da igualdade de cada pessoa e de cada família perante a Lei da Torá e perante o Eterno, foram assim contadas e consagradas para D-us as tribos de Ruben, Simão, Gad, Judá, Issacar, Zebulon, Dan, Asher, Naftali, Benjamim, Manassés e Efraim.
A Justiça para com as Mulheres
Um dos episódios marcantes é sem dúvida o pedido de justiça feita pelas mulheres, as cinco filhas de Tzelofchád da tribo de Manassés, Machlá,  Noáh, Chogláh, Milkáh e Tirtzáh, que reclamam a herança do seu pai falecido e que não teve filhos varões, estas mulheres reclamam justiça, e afirmam que o nome do seu pai não deve ser tirado do meio dos filhos de Israel que estiveram no deserto dos que saíram do Egito, e que tal lhe dá direito à herança, estas mulheres só recorreram a Moisés após terem solicitado o juízo de cada uma das instâncias, pelo que todos se achavam na incapacidade de julgar, até que levaram o caso ao Supremo Juiz, Moisés, que também disse ser ele incapaz de julgar, e entregou o problema  ao Eterno, e D-us respondeu a Moisés, dizendo, Justas são as mulheres, dar-lhe-ás o que têm por direito, e determinou o Eterno a Lei da Herança, ao qual as mulheres estão em pé de igualdade com os homens.
A Nomeação de Josué como sucessor de Moshê Rabeinu
Outro episódio que nos fala da justiça do Eterno é a que relata Moisés, que olha a partir do Monte Abarim a Terra Prometida, e D-us revela a Moisés que não entrará na Terra, mas será reunido com os que com ele estiveram no deserto e morreram, como o seu irmão Aarão e a sua irmã Myiriam, e acrescenta ainda o Eterno, dizendo a razão do porquê desta decisão e desta deliberação do Eterno, pela pouca fé e pela desobediência de Moisés no deserto de Tzim, no momento em que deveria ter santificado o Eterno com as águas da Rocha. E Moisés pede ao Eterno que não desampare Israel, e que nomeie um líder capaz de levar adiante a missão do povo judeu e de o guiar na entrada da Terra Santa.  O Eterno nomeia Josué, e este é apresentado a toda a congregação e empossado com a imposição de mãos, como o Sucessor de Moisés.  
Interpretação da Parashá
A Parashá Pinchás, tem um nome que ocupa uma pequena parcela de todo o texto da porção, mas é importante para iniciar-se um capitulo de justiça. A porção pode ser dividida em quatro partes, tal como acima foi apresentada, e todas falam de justiça, de atos e de consequenciais dos atos. A Torá não relata apenas história, não é um livro de registos mas é um diálogo intimo com cada um de nós e com a comunidade; analisemos portanto de uma forma simples cada uma das partes acima.
Pinchás faz justiça por temor a D-us e amor a Israel; em primeira análise o ato de Pinchás (Finéias) parece algo bárbaro, e estranhamos o facto de o próprio D-us no texto elogia-lo e fazer um pacto de paz, nomeando-o Sumo Sacerdote, não nos cabe julgar moralmente o ato, como referimos acima, a Torá não é um livro de História, arqueologia ou um texto filosófico para ser debatido, é acima de tudo um livro Pedagógico, o que é importante ver, é o zelo para com a justiça, o cuidado para com o respeito aos preceitos divinos e toraídicos, que haviam sido desrespeitados e que isso era a causa principal da praga e da doença que dizimou 24 mil pessoas no acampamento de Israel.
O Senso das Doze Tribos, a segunda parte é a contagem dos homens de todas as tribos, primeiramente, para ver quantos são e qual a dimensão do exército, visto que estavam prestes a entrar na Terra Prometida, que precisava ser conquistada e que estava pejada de povos violentos e idolatras, mas para além disso, era para determinar, de acordo com a dimensão de cada uma das tribos, a herança do território que seria distribuído a cada uma, e dentro de cada tribo a cada família.  
O Direito de Igualdade das Mulheres, dentre as famílias, nem todas tinham descendência masculina, como foi o caso das filhas de Tzelofchád da tribo de Manassés, se elas não reclamassem o seu direito, não teriam terras e isso iria diminuir a importância da sua tribo e permitiria uma desigualdade das mulheres perante os homens no que concerne a herança. Aqui o texto biblico é altamente pedagógico dando razão às mulheres e determinando a Lei da Herança, que é aplicado ainda hoje no mundo ocidental.

Josué continua o legado de Moisés, este episódio não relata apenas a sucessão e o exercício do poder de forma legítima, que é também respeitante à Lei, ainda hoje o Direito Administrativo trata destes assuntos de Sucessão, princípios e valores que são respeitantes da cultura judaica e dos textos bíblicos; mas fala também de um código de conduta, o perdão dos pecados não isenta a pena a cumprir, os atos não estão isentos de consequenciais, e estas não nos livram do sofrimento, mas enriquecem-nos com a aprendizagem. Moisés pecou por falta de fé no momento que deveria ter tido, mas também por desobediência a D-us, entre outras pequenas falhas de personalidade que não o beneficiaram desde o inicio, ainda assim foi um dos mais importantes homens de toda a História bíblica  e um dos mais amados perante o Eterno, serve-nos de exemplo não só a sua grandeza.
HAFTARÁ: I REIS 18:46-19:21
VeYad HaShem / E a Mão do Eterno
    O espírito de força do Eterno veio sobre Elias, e este pôs-se a correr diante do Rei Acab e este por sua vez contou a sua mulher, Jezabél, que Elias tinha morto todos os sacerdotes do deus Baal ao fio da espada, e Jezabel jurou matar o profeta Elias, e este fugiu para o deserto, onde em cansado da fuga adormece debaixo de um arbusto, e entrega sua alma a D-us, mas aparece um anjo e acorda-o, ao seu redor está um pão cozido e um jarro de água fresca,  e comeu e bebeu, e tornou a dormir, e voltou o anjo uma segunda vez e uma vez mais comeu e bebeu e levantou-se e caminhou por muitos dias até chegar ao monte Horeb, onde pernoitou e lhe apareceu o Eterno, que o ordenou a ir até à Síria e ungir Chazael como Rei da Síria e a Iehu ungir como Rei sobre Israel, e a Eliseu ungir como Profeta sendo sucessor de Elias. 


Autor Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal / Shlomo Mordechai é Licenciado em Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Trabalhou como Técnico de Serviço Social numa ONG vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e ao apoio de famílias em vulnerabilidade social, é Blogger desde 2007 e escritor desde 2015, tem livros publicados da poesia à política, passando pelo Serviço Social.

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