Recompensa e castigo, nada mais é do que as consequências
advindas do livre arbítrio que nós os seres humanos temos, e que nos foi dado pelo
Eterno.
A Toráh, e toda a Tanach descrevem-nos as exortações do
Eterno segundo a sua Lei, e dos profetas com os seus avisos do que deveria ser
evitado, o que deveria ser feito, e quais as consequências da desobediência dos
Seres Humanos, ou o que aconteceria a Israel, com a desobediência da lei, sendo
que é uma nação destinada a ser Santa e a santificar toda a Humanidade pela
preservação da Toráh e pela obediência dos ensinamentos nela contidos.
Falamos de livre arbítrio, algo que só cabe ao Ser
Humano, a única criatura de D-us que dispõe desse atributo, elevando-o acima das
restantes criaturas, ser livre e decidir é em parte o que nos assemelha a D-us,
resta é saber o que decidir e com que finalidade nos propomos a fazer as opções
tomadas.
Por outras palavras, sermos livres é uma realidade
espiritual e uma limitação temporal, porque nenhum ato que optemos em fazer
estará livre de consequências nefastas se for negativo, ou de bênçãos se for
positivo.
No entanto em caso de optarmos por boas ações e atitudes,
não esperemos dos homens reconhecimento algum, apenas do Eterno, e isto porque
muitas vezes o que optamos em fazer é o assumir as responsabilidades que temos
perante a família, a comunidade, o trabalho, entre outros fatores determinantes
na nossa vida.
Posto isto por outras palavras, podemos afirmar que ao
optarmos por agir bem, com justiça e com responsabilidade, assumindo o nosso
papel e tentando encontrar o encorajamento na Toráh, estaremos na realidade a
cumprir tudo aquilo a que estamos destinados perante o nosso próximo e perante
o Eterno.
Ora D-us não nos vai bajular constantemente por algo bom
que façamos, visto que é o que se espera de um crente e filho de D-us, e também
não nos humilhará ou torturará se o não fizermos, mas tudo se desenvolve no
mundo espiritual e conduz-nos nessa dimensão à plenitude do bem, ou à plenitude
do mal, o inferno como popularmente é chamado, que nada mais é que o
afastamento da Graça e das Bênçãos do Eterno sobre nós. Contudo a visão judaica nada tem a ver com o conceito cristão no que concerne ao inferno eterno, a Tanach não é clara quanto a isso, pelo que devemos nos preocupar na nossa missão de tornar o mundo um lugar melhor e fazermos o bem.
Para ilustrar esta ideia, temos o seguinte texto no livro
de Shemot (Êxodo), 20, 5-6 que nos diz que para além do aspecto individual, há os
aspectos familiares e comunitários das recompensas e dos castigos ora vejamos o
texto:
(5) “Não te prestarás diante
deles (idolatria) nem os servirás (falsos deuses) pois Eu Sou o Eterno teu D-us,
um D-us zeloso, que cobro a iniquidade dos pais nos filhos, sobre terceiras e
sobre quartas gerações, aos que Me aborrecem, e (6) Faço misericórdia até duas mil gerações aos que Me amam e aos que guardas
Meus mandamentos”.
Aqui não se deve ler como um mero castigo de inocentes
por culpa dos pais culpados, isto quer somente dizer que nós recebemos
influencias do ambiente em que vivemos e os repetimos, se forem bons serão benignos
se forem maus, terão as consequências, é isto que diz o texto.
D-us não esconte que não deseja matar o pai pelo pecado
dos filhos, nem os filhos por causa do pecado dos pais, tal como exposto em Devarim
(Deuteronómio) 24, 16:
(16) “Não se fará morrer os
pais, pelo testemunho dos filhos, nem os filhos pelo testemunho dos pais, cada
homem morrerá pelo seu pecado”.
Um outro exemplo que gosto de ilustrar é o seguinte, o
que acontece a uma pessoa que não come comida Kasher? Nada, ou seja comer
kasher ou não comer kasher, não é salvífico, nem condenatório, mas comer Kasher
é santificador se eu optar por o fazer e souber porque é que o devo fazer. Por
outras palavras se eu comer Kasher, mas odiar o meu próximo e optar por atos
contrários ao Bem e à Toráh, de nada vale comer Kasher. O que D-us espera de nós,
é uma verdadeira e sincera adesão de coração e espírito e não meramente ritual.
Portanto o importante é o conceito que temos sobre Céu e
inferno, o bem e o mal, a recompensa e o castigo, e por fim, uma luz ao fundo
que antes mesmo de nos preocuparmos com tudo isso, façamos com o nosso livre arbítrio
uma Teshuvá (arrependimento/retorno) da nossa alma, todos os dias a tentar ser uma
pessoa melhor, para o próximo, para nós e para D-us.
Mordechai Shlomo