Esta é uma Parashá complexa e repleta de lições e significados; é o
relato da libertação de um povo, para além do sentido temporal e físico, mas
também e fundamentalmente no sentido espiritual.
A frase inicial desta porção denomina-se “Enviou”, frase que no hebraico
bíblico, tem o mesmo significado de "E deixou ir", os relatos
iniciam-se com a fuga dos hebreus após a décima e última praga do Egito, e
culminam com a vitória na batalha contra Amalec descendente de Esaú e que era
Rei do povo Amalequita, que não temia ao Eterno.
E o Faraó deu ordem
de deixa-los partir
Após a noite da derradeira praga da morte dos Primogénitos dos egípcios, que tanta dor gerou aos poderosos bem como aos servos, atingindo os primogénitos das pessoas e dos animais, o Faraó chama Moisés e ordena-lhe que envie os hebreus para fora do Egito, na verdade deixou-os partir, mas logo de seguida arrepende-se, devido à dureza do seu coração.
Os hebreus saíram à pressa, porque temiam que o Faraó mudasse de ideias, de
modo que não houve tempo de fermentar o pão, saíram apressadamente do Egito, a
fugir do Faraó e dos seus algozes. Mas Moisés não se esqueceu da promessa que
fizeram a José, de levar os seus ossos, conta a tradição oral que está
compilada no Talmude, que os restos mortais de José, estavam num sarcófago
deitado ao mar pelos egípcios, aquando da sua morte para que fosse abençoado o
rio Nilo, Moisés, dirigiu-se às margens e chamou em voz alta: "José, José,
chegou a hora da libertação, mostra-me onde estás, para que não nos atrases na
partida do Egito", e o sarcófago de José emergiu e foi recolhido.
A frase enigmática da Parashá é a de que, o Eterno não quis que os hebreus
seguissem diretamente no sentido do Norte que era o caminho mais rápido e mais
perto para chegar à Terra Santa, mas diz, "Não guiou o povo pelo caminho
da Terra dos Filisteus, porque era demasiado perto", mas a proximidade que
o Eterno indica é a proximidade de tempo, ou seja, era cedo demais. Fê-los,
pois, que seguissem pelo caminho do Mar de Juncos יַם-סוּף Yiam Suf, para que não vendo os seus inimigos não esmorecessem e voltassem
atrás, mas antes seguissem em diante, para o deserto, onde seria feita uma
quarentena de anos, para a purificação espiritual, onde tudo o que fosse
escravidão, e espírito egípcio seria eliminado, criando um novo povo sobre uma
nova Lei a Torá.
15 de Nissan o dia da libertação dos hebreus.
Os hebreus saíram do Egito no dia 15 de Nissan, que passou a ser um dia
memorial, a Pessach (passagem) e que abre no calendário judaico o Ano
Religioso, a travessia do Mar Vermelho e a entrada num novo espaço, ainda que distante
é símbolo do esforço pelo amadurecimento e crescimento espiritual de um povo,
assim ser-se-á verdadeiramente livre. Mas também é enfatizada a derrota dos
Egípcios e do Faraó, que ao perseguirem os judeus, morrem afogados no mar,
quando a divisão das águas cessa. O que é um sinal, que o mal não prevalece
nunca e que a Justiça de D-us é perene.
No deserto sentiram fome e sede, e o Eterno
enviou-lhes o Maná, dava-lhes uma quantidade exata para um dia, e na
sexta-feira caia em dobro, para o shabat, onde não sairiam para
recolher, porque não existiria maná nesse dia santo. Este foi um milagre que o
Eterno cumpriu durante quarenta anos, o tempo da estadia dos judeus no deserto
após a saída do Egito.
A Parashá Beshalách é repleta de significados, não apenas como
relatos históricos para a história dos hebreus e dos israelitas, mas para cada
um de nós, na vida pessoal do dia-a-dia perante os problemas surgidos e os
obstáculos que se nos impõe.
Relata o processo de libertação, que passa primeiramente, por decidir-se a
ser livre, mas para tal, é necessária uma grande dose de desapego, determinação
e sobretudo fé. Fora isso, o processo de libertação é algo árduo e sofrido,
seja para um povo, ou mesmo para uma pessoa, sair do cativeiro, seja ele
físico, psicológico ou emocional, é doloroso, mas é a certeza do que se quer
que nos dá a coragem e a determinação para empreendermos na conquista desse
objetivo.
Do mesmo modo que os judeus se guiaram por D-us através de Moisés (Moshê Rabeinu)
cada um de nós, guia-se por seus pais, pessoas amigas com experiência, e não
raras vezes, muitos buscaram na Torá o conselho espiritual necessário para o
seu processo pessoal de libertação.
A escravidão é uma situação de total abandono e subjugação à mercê de
terceiros que nos exploram, hoje no mundo moderno, há novas formas de
escravidão, das quais precisamos nos libertar, seja das dívidas, sejam dos
vícios, seja de situações deploráveis que nos desagradam, enfim, o que se
deseja é a liberdade plena e isso só é possível, tendo em primeiro um espírito
liberto de erros e focado em D-us, na Torá e mantido na oração.
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